domingo, 22 de março de 2009

A esperança de viver perto da luz



No meio de uma cidade repleta de pessoas, edifícios, casas,... vivia um rapaz, o seu nome era Flávio. A sua casa era pequena, o suficiente para fazer a sua vida e conseguir viver com dignidade.
Ele veio de uma aldeia muito pacata situada perto das montanhas, para ele esta cidade era desconhecida, não conhecia ninguém, apenas conhecia as pessoas com quem trabalhava na cozinha de um restaurante.
Todas as manhãs rezava e perdia horas a pensar na beleza da sua aldeia, nos campos por onde corria e nas montanhas por onde andava.
Ficava triste porque sentia saudades de toda a sua família e do ar puro que esta habituado.
Flávio ansiava por voltar a encontrar o ar pelo qual estava habituado a respirar. Pedia ao Senhor todos os dias para que voltasse a sentir utilidade nesta cidade escura de desejos.
No caminho para o seu trabalho não encontrava resposta para aquilo que os seus olhos viam.
Tudo o que observava o deixava desanimado. As pessoas com quem falava respiravam a preocupação pelas suas coisas, pelo seu próprio bem-estar e não percebia todo aquele egoísmo.
De dia para dia as coisas pioravam, as pessoas pareciam viver cobertas por uma espécie de nuvem, pintada por uma enormidade de ambições desmedidas.
Afinal, sentia-se triste porque também fazia parte daquele mundo e não sabia o que fazer para alterar o seu caminho.
Um dia, no meio da sua oração sentiu uma grande claridade diante dos seus olhos, era o sol, estava ali como sempre para fazer aquilo que melhor sabia fazer.
Mas, naquela manhã parecia brilhar de uma forma diferente.
A verdade é que a luz do sol sempre esteve ali, e naquele dia ela chegou ao seu coração e encheu-o de tal forma que o vazio passou a ser esperança.
Sentia-se bem, como não se sentira desde os seus anos de criança.
Os dias passavam e a sua forma de encarar a luz passou a ser diferente. Flávio perguntava a si mesmo porque não tinha sentido aquilo anteriormente, e chegou à conclusão de que tudo o que estava agora diante dele sempre esteve ali.
Deus deu-lhe o sol como deu uma imensidão de coisas. A luz que ele recebia era especial porque ela começara a encará-la também de uma maneira especial. A partir daí começou a agradecer todos os dias pelo sol que nascia, como se fosse o último da sua vida.
Passou-se uns dias e começou a sentir-se esquesito, faltava qualquer coisa, algo que fizesse tornar-se útlil e digno no caminho do Senhor.
Num fim de tarde, saiu do trabalho e no caminho para sua casa encontrou um mendigo deitado no chão coberto de jornais.
Foi para perto dele e perguntou-he se queria algo para comer e o mendigo recusou-se a aceitar qualquer coisa vinda dele, dizendo para se ir embora que estava a perder o seu tempo.
O Flávio deu meia volta e foi para casa a pensar naquilo que tinha acontecido. Não conseguia perceber porque o mendigo tinha reagido assim. No outro dia, viu-o novamente e perguntou-lhe porque tinha recusado a ajuda dele e o mendigo disse-lhe para parar de fazer-se passar por "bonzinho". Saiu dali furioso porque queria ajudá-lo e simplesmente não conseguia perceber a sua ideia.
Passaram-se alguns dias e voltou a encontrar o mesmo senhor e desta vez fugiu do Flávio para que não o aborrecesse mais. Ficou completamente imóvel a pensar na reacção do mendigo. Por mais horas que passassem não percebeu porque o mendigo não o aceitava.
Um dia no local de trabalho viu-o a ser transportado pelos médicos e bombeiros para uma ambulância. Preocupado foi ao hospital ver como estava e os médicos disseram que ele já tinha recuperado da subnutrição que apresentava. Foi ao quarto do hospital onde ele estava e perguntou-lhe se desta vez podia falar com ele. O mendigo perguntou-lhe porquê que ele estava preocupado com ele se ninguém até aquele momento o tinha feito. O Flávio disse que sentia uma enorme vontade de fazer alguma coisa por ele. O pobre doente disse-lhe que não queria os alimentos, que ele estava disposto a comprar, porque isso dalguma forma conseguiria arranjar. Então perguntou-lhe o que podia fazer por ele, o mendigo respondeu-lhe que já estava a judá-lo. Disse-lhe que a sua preocupação e companhia alimentava-o mais do que qualquer outra coisa, fazia-o sentir mais digno e mais feliz.
De dia para dia, o sol nascia sempre de uma forma diferente para o Flávio. Finalmente percebeu que os seus pequenos actos podiam ter grandes frutos. Não precisava de fazer grandes actos para que a vida dele e as dos outros tivessem sentido.
Foi na humildade e na bondade ao serviço dos outros que este homem cresceu, um caminho rico de coisas simples, que fizeram dele uma pessoa um pouco melhor aos olhos da Luz de Deus.

Pedro José

Um comentário:

Anônimo disse...

"Disse-lhe que a sua preocupação e companhia alimentava-o mais do que qualquer outra coisa, fazia-o sentir mais digno e mais feliz." Muitas vezes quando pensamos em ajudar pensamos em fazer grandes feitos para que se veja... quando afinal o gesto mais simples que para nós passa desapercebido é o mais importante e grandioso aos olhos de Deus e de quem queremos ajudar.
VL